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De mulher pra mulher, supera: sobre Marília, o “feminejo” e a saudade


Escrever sobre Marília, é observar de modo muito singelo os fatos jornalísticos se misturarem às nossas próprias realidades. O artigo de hoje não contará apenas sobre como essa cantora tão jovem mudou o rumo do sertanejo, colocando as mulheres como protagonistas de suas próprias histórias, mas também, sobre como uma mulher de vinte e seis anos, influenciou a vida de mulheres de vinte, trinta e outras tantas faixas etárias.


Nossa história coletiva com esse fenômeno, tem início na mesa de um bar imaginário criado por suas inúmeras canções que retratavam uma outra face da realidade feminina, em pleno canal de stream, ouvindo e cantando as dores de um amor com as mais variadas notas de ilusão, confusão e superação.


Em um país, que de acordo com pesquisas realizadas pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, com o apoio da farmacêutica Pfizer, os homens traem mais do que as mulheres chegando na marca de 50,5%, Marília colocava as cartas na mesa e escancarava as portas da moralidade.


“Eu já sofri demais na minha vida com relacionamento. Eu queria passar a minha verdade. E estou vendo que consegui com essa coisa de Rainha da Sofrência.” Foi assim que a cantora descreveu suas inspirações para compor, em dezembro de 2015, para um portal de notícias do Maranhão.


Do ano dessa declaração até os dias atuais, sua obra transcendeu. Suas músicas não só nos atraiam pela repetição constante nas rádios e sua viralização nas mídias sociais, mas também traziam um senso de novidade, de pertencimento. Era uma mulher cantando a vida das mulheres do Brasil. Suas letras alcançaram um público mais amplo que não tinha um discurso feminista apropriado sobre os movimentos sociais, levando o conceito na prática aos locais mais profundos do nosso país.


Coisas que só Marília fazia - e como fazia!


A cantora, também movimentou o cenário da música brasileira atual, popularizando o termo “feminejo” - música sertaneja composta e cantada por mulheres -, e consolidando uma vertente surpreendentemente pouco explorada pelo sertanejo: as mulheres. Embora sempre tenham sido grandes consumidoras de produtos musicais, as mulheres raramente apareciam como cantoras e compositoras, muito menos expressando visões femininas acerca de situações cotidianas.


Entretanto, Marília compôs e cantou nossas histórias, nossa independência e nossas insubmissões para além das canetas e versões masculinas um tanto quanto egóicas sobre nossas vivências. Marília cantou milhões, em todos os sentidos da palavra.

De mulher para mulher, Marília nos alertou. E acredite: superamos um tanto de gente graças a sua presença destemida, alegre e empoderada. Já a sua ausência, será insuperável - e por agora, quase que insuportável.


Muito obrigada por tanto, Marília.


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