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Jornalismo: informação e a formação através das notícias



Ser jornalista é enfrentar diariamente as boas e as más notícias e comunicar essas informações com qualidade e responsabilidade a milhares de pessoas. Ser jornalista é lutar e resistir diariamente às notícias falsas e aos ataques para que milhares de pessoas possam continuar acessando informações de qualidade. Com isso em mente, gostaríamos de salientar a importância de comunicar, mas principalmente, da nossa responsabilidade de fazer com que a informação completa e correta alcance nosso público. Fazer jornalismo é escrever e contar histórias reais e cotidianas a quem se interessa por elas.


Visto que a história é contada do ponto de vista do vencedor – do colonizador, daquele que conquistou e ocupou territórios, que venceu a guerra e dizimou civilizações, utilizando o progresso como justificativa – é necessário apurar e narrar os fatos a partir de distintos olhares. Afinal, se a história tem múltiplos lados, o papel do jornalista é abordar todos os lados possíveis de um mesmo fato. Isso permite que o público forme uma opinião sobre o assunto. No entanto, quem é jornalista tem lidado com alguns obstáculos para exercer a profissão.


Os últimos anos têm sido de extremamente difíceis para o jornalista e regularmente é possível notar nos telejornais os profissionais da área (e suas respectivas emissoras) vítimas de ofensas, tal como tem ocorrido na internet. Por exemplo: em 2020, quando o jornalismo tornou-se uma atividade essencial no intuito de levar informação de qualidade e responsável sobre a covid-19, o Brasil registrou um aumento significativo nos casos de violência contra jornalistas. De acordo com o Relatório da Violência contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil, elaborado pela Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) em 2020, houve registro de um total de 428 casos de ataques a profissionais da área, contendo duas mortes, o que representa um aumento de 105,77% em relação ao ano anterior.


Foi o ano mais violento para a classe desde a década de 90, quando a entidade iniciou o registro dos casos. E quem liderou esses ataques foi o ex-presidente Jair Bolsonaro, sendo responsável por 175 ataques, seguido por políticos de outras esferas públicas, servidores públicos e, principalmente, internautas. São ataques que ocorrem para descredibilizar a imprensa a fim de que uma parcela da população prossiga se informando em lugares de propagação de informações falsas.


A atitude do presidente, de certa forma, serve como incentivo para que outras pessoas ajam da mesma forma com jornalistas. Assim, cresceram também as agressões verbais/ataques virtuais, totalizando em 76 casos. Pode parecer pouco, mas é um crescimento de 280% em relação a 2019. Sem esquecer que muitos jornalistas não denunciam formalmente os ataques que sofrem no ambiente virtual, subnotificando os dados, de acordo com o levantamento.


De certa forma, o comportamento do ex-presidente funciona como um incentivo para que outras pessoas tratem os jornalistas da mesma forma. Os ataques verbais/virtuais também aumentaram, elevando o total para 76. Pode não parecer muito, mas é um crescimento de 280% em relação a 2019. Vale lembrar que muitos jornalistas não noticiam oficialmente ataques em ambientes virtuais, subnotificando os dados, de acordo com o levantamento.


Cenário do jornalismo brasileiro


É uma questão histórica que ajuda a justificar a referência jornalística ao eixo Rio São Paulo no país. No Brasil, o jornalismo começou com a chegada da família real portuguesa em 1808 e a necessidade de criar uma organização administrativa, incluindo um jornal. Primeiro, foi criada a Imprensa Régia, instituição que permite a presença da imprensa no país. Alguns meses depois, em 10 de setembro de 1808, era publicado o primeiro jornal oficial criado no Brasil, a Gazeta do Rio de Janeiro. O jornal tinha perfil semelhante ao Diário Oficial e veiculava mais informações sobre estruturas governamentais do que acontecimentos do país


Com o passar do tempo, especialmente a partir do século XX, os meios de comunicação passaram a falar para públicos mais específicos sobre assuntos mais específicos. Nas faculdades, seria algo como “jornalismo de nicho”, mas é mais do que apenas um nome. A comunicação para os seus que era necessária. Temos acesso a essas informações, mas o jornalismo de nicho existe há décadas, destacando a importância de olhar de dentro para fora dessas realidades muitas vezes marginalizadas na mídia tradicional.


O jornalismo comunitário também segue essa linha de raciocínio. Aborda em seus produtos midiáticos – seja por meio de texto, áudio ou vídeos – pautas e demandas locais. E através desses materiais, quem o faz apresenta uma visão desse território que comumente não é exposta nos veículos tradicionais, e que, de certa forma, ajuda a criar nos leitores/moradores um sentido de orgulho por pertencer àquele local. Com as mídias digitais, é possível que essa informação chegue ao seu público-alvo, os moradores daquela localidade, mas também amplia o raio que essa informação pode chegar, em outros territórios semelhantes e até mesmo nos veículos tradicionais, impactando na forma de se falar de certos locais. Um exemplo disso é como a cobertura jornalística de operações policiais na Maré, por parte do Maré de Notícias, muitas vezes ajudou a pautar grandes veículos da mídia, que puderam abordar também a visão do morador em relação à operação


O jornalismo comunitário também segue essa linha de raciocínio. Seus produtos de mídia, seja texto, áudio ou vídeo, atendem a agendas e demandas locais. E por meio desses materiais, todo aquele que apresenta uma visão desse universo, normalmente não mostrada em veículos convencionais, de certa forma cria no leitor/morador um sentimento de orgulho de pertencer àquele local. Com as mídias digitais, é possível que a informação alcance o público-alvo, ou seja, os habitantes do local, mas outras áreas afins e até veículos convencionais, ampliando o alcance dessa informação.


O jornalismo que não está nos livros


Algo que não é falado nas salas de aula, mas que vale destacar, é a presença da imprensa negra no Brasil, que existe há pelo menos dois séculos e hoje se reflete em veículos como Alma Preta, Site Mundo Negro e AfroTV, por exemplo. No levantamento de 2020, feito pelo Fórum Permanente pela Igualdade Racial (FOPIR), foram mapeados 65 veículos negros em todo o país, com produção na luta contra o racismo e desigualdades no país. Porém, a atuação da imprensa negra tem registros anteriores até mesmo à abolição, mas que no século XX ganha mais força.


Além de transmitir informações, esses jornais tinham o papel de educar seus leitores a partir do momento em que seus textos celebravam a tradição e enfatizavam a importância da coletividade e da alfabetização para o crescimento. Esse tipo de jornalismo não cumpre apenas um papel informativo e formativo , mas também aponta a desigualdade, tendo em vista a necessidade de criar alternativas para abordar questões específicas da população negra. Isso também se aplica a outros grupos minoritários. A publicação em uma comunidade de circulação limitada e de alcance limitado desempenha um papel social, político e catártico no processo.


Um exemplo: os Manuscritos da Revolta dos Búzios (1798), considerado pelos historiadores como o primeiro jornal de imprensa negra, teve papel importante em Salvador na época em que foi publicado. A série espalhou a mensagem de liberdade, chamando as pessoas contra a escravidão e libertação da Bahia do restante do país.. Além da mensagem, teve um papel importantíssimo na articulação da Conjuração Baiana. Como ainda não existia a Imprensa Régia, os jornais existiam ilegalmente e eram manuscritos e produzidos em número muito reduzido. Além disso, devido ao fato de que a maior parte do público-alvo do jornal (os negros escravizados) era analfabeta, o jornal era publicado em locais estratégicos da cidade e lido em voz alta para atingir um público mais amplo, reforçando como os negros utilizavam o jornalismo como uma ferramenta de resistência.


Não importa o ano da nossa história, através do boca a boca, do jornal impresso entregue de porta em porta, rádio ou telejornal, a atuação do jornalista é fundamental e tem papel relevante na sociedade em que vivemos, sendo responsável principalmente por informar, mas também por formar pensamento crítico dos leitores.


Marcelo Batista, Assessor de Mídias Sociais do Grupo Mostra de Ideias

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