
A indústria cinematográfica de Hollywood realiza o lançamento de diversos longas metragens todos os anos. Alguns são muito bons, outros nem tanto, e existem filmes como Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo, um clássico instantâneo, que nos dá uma verdadeira aula de como se fazer cinema.
Dirigido por Daniel Kwan e Daniel Scheinert (Um Cadáver Para Sobreviver), mais conhecidos como os Daniels, o filme conta a história de Evely Wang, uma imigrante de meia-idade que veio da China deixando seus pais para trás. Com o marido Waymond, vai atrás do famoso sonho americano, abrindo uma lavanderia.
Morando em cima do empreendimento, os dois criam a sua filha, mas a família possui uma relação bem conturbada. Mas tudo muda quando Evelyn é empurrada para uma aventura insana em que ela precisa explorar o multiverso se quiser salvar a sua realidade e todos os outros universos de um grande mal.
Apesar de o filme ser separado em três atos, que fazem referência ao nome do filme, e possuir uma linha narrativa coesa, é a insanidade que dita todo o tom do longa. Isso porque os Daniels não nos poupam de conceitos bizarros sendo jogados em nossa cara ao longo dos 193 minutos.
Isso acaba sendo muito bom, porque os conceitos apresentados enriquecem a trama, que transita de forma natural, feito de poucos filmes. A obra conta com gêneros completamente diferentes, mas que ainda conseguem emocionar o espectador sem que ele estranhe essa mudança.
O filme passa pelo drama, comédia, ação, terror, trash, sátira e artes marciais com uma facilidade encantadora, fazendo rir, chorar e se grudar na ponta da cadeira esperando ansiosamente pela próxima cena.
Mas o que deixa esse filme ainda mais inesquecível é que a trama, embora simples, mostra como uma vida de arrependimentos e remorsos afeta como nos relacionamos com as pessoas ao nosso redor. Além disso, também aborda como um pequeno ajuste na perspectiva pode mudar completamente a nossa noção de realidade.
E aqui vai mais um ponto positivo para os diretores, que souberam usar o elenco que tinham nas mãos – destaque para Michelle Yeoh (O Tigre e o Dragão) – tanto na atuação quanto para as coreografias de lutas, que são simplesmente estonteantes.
A edição também merece seu espaço aqui. Apesar do conceito extremamente complexo, e com um alto risco de dar errado, os diretores conseguem encaixar as cenas em uma proporção exata, não fazendo com que nada passe do tom e chegando exatamente aonde pretendiam desde o princípio, sem excessos.
Produzido pelo estúdio queridinho dos cinéfilos A24, o filme teve um modesto orçamento de US$ 10 milhões de dólares e arrecadou (até o momento da publicação deste artigo) US$ 100,6 milhões de bilheteria ao redor do mundo.
Seria uma grande desfeita se a Academia do Oscar o deixasse passar sem pelo menos uma indicação como Melhor Roteiro Original, ou no mínimo alguma estatueta relacionada a edição. Somente nos resta esperar para ver.
Com tudo isso, Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo, é um daqueles filmes que já nasceram clássicos, capaz de emocionar todos os espectadores, e ainda mostrar que Hollywood tem espaços para novas ideias, por mais malucas que elas sejam.
Kauê Medeiros, Assistente de Comunicação.
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